domingo, janeiro 22, 2006

TERAPIA

"É o seguinte, doutor: quando eu tinha uns 5 anos, meus pais foram torturados, assassinados e escalpelados na minha frente pela tia Ana, uma moça muito simpática e bonita que trabalhava na minha casa. Depois disso ela pegou todas as coisas legais que tinha lá em casa, e eu fui morar com ela num kitchenette em Itaquaquecetuba-mirim. Um dia ela resolveu se casar com o tio Paulo, um rapaz simpático e bem-apessoado, que tinha fugido recentemente de Bangu 1, e estava se escondendo lá na cidade. O pessoal na cidade dizia que ele era estuprador e pedófilo, mas eu e meus amigos achávamos ele um cara bem legal, que sempre comprava sorvete e levava a gente pra tomar banho pelado no rio. Todo dia de manhã ele me acordava pra ir pra escola e depois da aula a gente ficava a tarde toda jogando bola. Aí toda noite, depois que a tia Ana ia dormir, ele vinha no meu quarto, me acordava, abaixava as minhas calças e colocava o totôto dele no meu ânus. Doía muito, sabe, mas ele me dizia que era assim mesmo, que isso ia fazer crescer cabelo no meu peito e que eu ia jogar bola melhor. O problema, doutor, é que o tio Paulo às vezes ficava a noite toda fazendo isso, e aí eu não conseguia dormir direito, e de manhã não conseguia assistir às aulas. Aí acabou que eu repeti a quinta série umas quatro vezes. As outras crianças então me chamavam o tempo todo de burro, idiota e retardado, e sofri com isso ao longo de toda a minha adolescência e pré-adolescência, até o início da idade adulta - que foi o tempo necessário pra eu concluir o ensino fundamental . Acho que essas provocações constantes podem ter me traumatizado, e provocado os problemas de auto-estima e depressão que tenho hoje. Será que tem cura, doutor?"